Como médico neurologista que sou, sempre recebi em meu consultório pacientes com depressão e percebia que as pessoas reagiam diferentemente a cada medicação antidepressiva prescrita. Busquei me atualizar, mas naquele tempo, 40 anos atrás, pouco ou nada se sabia da depressão, a não ser seus fatores psicológicos e sociais desencadeantes. Acurei minhas observações, comecei a distinguir os vários tipos de depressão existentes e percebi que um fator biológico relacionado a transmissão genética familiar estava presente e era determinante.
Comecei então a tratar meus pacientes segundo os protocolos existentes, mas explicando a eles que, depressão é uma doença orgânica, provavelmente multigênica, e que o tratamento deveria se fundamentar em medicamentos. Ressaltava que o suporte psicoterápico e social era importante, mas que o fundamental, como em outras doenças biológicas, era a terapia medicamentosa, às vezes por vários anos.
Acrescentava a eles explicações da biologia cerebral com ilustrações em slides, destacando o papel das sinapses e dos neurotransmissores na depressão. Sempre lhes expliquei que era fundamental a compreensão do fator biológico existente, da mesma forma que na diabetes e na hipertensão, ou seja, que a depressão não dependia da pessoa e que não eram situações isoladas de perdas materiais ou afetivas, estresse ou luto a causa da depressão. Estes fatores poderiam estar presentes e desencadear as crises depressivas.
O sucesso dessa conduta foi enorme e hoje fico feliz de saber que as últimas pesquisas confirmam o meu entendimento inicial sobre a importância fundamental do fator biológico e da necessidade imperativa do uso de medicação. Os novos conhecimentos finalmente deram base para combater os “amigos bem-intencionados” que sempre atrapalharam os tratamentos dizendo que “a pessoa deprimida não precisava de remédio, bastando apenas a mudança de atitude ou da intensificação da religiosidade”. Serviu também para aqueles pacientes ou seus amigos que diziam ser os medicamentos “muito fortes”, por isso paravam ou sugeriam a parada da medicação. Felizmente os avanços das neurociências esclareceram essas dúvidas.
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